Mais uma vez, o espetáculo das eleições inicia-se! E haja eleitores para tantos candidatos, haja paciência para tantas promessas. Mais uma vez, estes ‘amigos do povo’ sobem ao palanque, zombando nitidamente de nossa inteligência, com seus discursos demagógicos e suas duvidosas boas-vontades.

Mais uma vez somos vítimas da tentativa de manipulação vergonhosa que nos submetem diariamente nas rádios, nos auto-falantes, carros de som, e por aí vai, quando sempre apresentam mil e um motivos para darmos a eles nosso voto. E quando mesmo isso não é suficiente, alguns têm o desplante, a ousadia descarada de oferecer um emprego, um cargo de confiança, ou dinheiro nu e cru, tudo isso porque estão unidos em prol da “democracia, dos nossos direitos, da liberdade. É um verdadeiro show de ilusionismo, onde a população, alvo-mor do espetáculo, delicia-se eufórica numa comemoração e algazarra cega àqueles que pisam e alimentam-se sobre a carcaça dela. Vão em massa aos comícios, ignorando a fome, o sofrimento, a falta de emprego, tudo para agradecer e apoiar o candidato que é diferente. Esse vai mudar, todos dizem, numa esperança tola de que eles possam realmente fazer algo, além de apoderarem-se de recursos públicos, ficando do lado que mais lhes convir.

Assim, de 4 em 4 anos, o povo elege seu principal carrasco, repetindo os mesmos números e expectativas nas urnas, porque tem memória muito curta: num momento, o vereador, prefeito, etc, é corrupto mentiroso, mas nas eleições ele é mais uma vez o salvador da cidade! Existem até mesmo aqueles que dizem: ‘ele rouba, mas faz!’, assumindo publicamente sua condição de enganado e humilhado política, ideológica e mentalmente. Enquanto isso, a sujeira corre solta por baixo dos panos, e todo mundo sente que há algo de podre no lugar, mas ninguém tem coragem de varrer a sujeira pra fora.

É uma hipocrisia vergonhosa essa que bate de porta em porta em nossa cidade. Uma troca de favores, de interesses, de proteção a famílias elitistas, uma falsa propaganda de proteção à população contra a tirania, quando na verdade, todos se encontram num mesmo patamar de desrespeito e falsidade. A própria história é um exemplo da falha definitiva neste sistema sobre o qual nos assentamos. Lembre dos últimos governantes. Pergunte-se há quanto tempo o modelo político vigente vem sendo perpetuado. Questione a respeito dos sucessos e falhas que ele apresenta. Alguma vez você se sentiu satisfeito com seu voto? Alguma vez sentiu que foi diferente? Agora, quantas vezes se viram enganados diante de promessas que se tornaram apenas areia diante dos seus olhos? Correntina está atolada em promessas. São justamente elas que não deixam a cidade progredir, e você ainda tem esperanças de que dessa vez seja diferente? Lembre-se do dinheiro, dos interesses partidários, da vergonha dos laranjas espalhada por todo canto, da educação decadente, da perseguição aos servidores que tiveram a coragem de dizer um Não!

Anular o voto, ao contrário do que muitos pensam, não é manifestar ignorância sobre o sistema eleitoral. Anular é o mesmo que protestar, que manifestar pública e enfaticamente seu descontentamento com os governos que nada fazem além de assenhorar, apadrinhar, e se apropriar das verbas públicas. Anular o voto é, na verdade, a ação mais consciente que você pode fazer diante da bagunça política universal.

Questione-se e aja. Os governos de todos acabam tornando-se governos de poucos, e você SABE disso. Não participe! Não vote! Anule! Dê uma imensa banana àqueles que só se lembram de você de 4 em 4 anos!

O verdadeiro amigo do povo é o povo organizado.
Graciliano Ramos