Gol da Segregação
Um esporte que começou como diversão da classe trabalhadora se tornou um negócio que rende lucros exorbitantes para uma pequena elite mundial e nacional. Enquanto o planeta se entreteve com a copa, quem pagou de fato por todo o glamour, estrutura e jogo de mentiras mascarado como cultura foi o povo da África do Sul. Banidos para campos de concentração, longe dos olhos dos turistas, careceram de comida, saúde, educação e segurança. Mesmo assim, o governo sul-africano apresentou cinicamente este momento ao povo como uma oportunidade única para a melhoria da sua situação econômica e social. Reflexo dos interesses da elite dirigente do país, que justificou com ar de patriotismo os gastos de mais de 8 bilhões de rands nos preparativos para a Copa. A população foi impulsionada pela mídia a entrar na febre do evento, estudantes foram forçados a vestir a camisa da seleção, carros receberam bandeiras, mascotes foram disseminados como doença e quem se atreveu a manifestar dúvidas sobre a Copa foi maculado como antipatriota. Greves e protestos foram proibidos em nome do “interesse nacional”. A FIFA, prevendo com a Copa 2010 um lucro de aproximadamente 1,5 bilhões de euros, arrecadou mais de 1 bilhão apenas com os direitos de transmissão televisiva. Os estádios e as zonas circudantes, incluindo estradas, foram entregues à corporação com insenções de impostos. Nessas áreas, a FIFA fiscalizou e proibiu atividades de comerciantes locais, excluindo aqueles que acreditaram poder aumentar sua renda com os jogos. Os jornalistas credenciados também foram impedidos contratualmente pela FIFA de criticá-la, comprometendo claramente a liberdade de imprensa.
O futebol negócio e a Copa do Mundo trazem lucros exorbitantes para poucos, com infinitos gastos desnecessários, que cobram dos seus clientes-torcedores milhares de rands, dólares, libras e euros para assistirem jogadores caindo e mergulhando em campos super bem tratados e que discutem, através dos seus agentes, se são ou não dignos de salários mirabolantes. O jogo em si, que em muitos aspectos mantém a sua beleza estética, perdeu a sua alma trabalhadora e foi reduzido a uma série de produtos fúteis. Bakunin disse que “as pessoas vão à igreja pelos mesmos motivos que vão a um bar: para hostilizar, esquecer a sua miséria e imaginar serem, por alguns minutos, também livres e felizes”. Talvez possamos dizer o mesmo do futebol negócio, com suas bandeiras nacionalistas agitadas, sua cegueira e suas estridentes vuvuzelas.