Muitos podem até não gostar de ler, já que as informações adiante são inconvenientes: o hardcore está mor(rendo)to há anos.

O hardcore foi uma resposta dos punks que se viram traídos por seu próprio movimento, quando bandas tocavam na TV vendendo esta cultura para a indústria audiovisual. No início dos anos 80 houve uma resposta, com este novo movimento que foi muito mais duro (hard) com tudo: posições políticas radicais, som mais agressivo, inaudível aos ouvidos da cultura pop e até vestuário mais chocante. Estas qualidades fizeram-no a linha dura”do undegroud, e por esta razão lhe foi apelidado o nome hardcore. Como sua origem mostra, este é nada menos que a coisa mais rebelde nascida nas culturas subterrâneas. Mas assim como seu correspondente das periferias, o rap, pouco a pouco foi incorporado pelas gravadoras e pelas classes altas, tornando-o apenas mais um estilo disponível aos jovens. Talvez lá fora não seja dessa forma, mas no Brasil é assim que acontece. Shows de hardcore agora não rendem nenhuma proposta de mudança social. Agora as pessoas têm esses eventos apenas como um ponto de encontro, como um bar. Tal qual as igrejas, o objetivo do hardcore se perdeu nas areias do tempo e se tornou algo com motivos puramente sociais, nada políticos.

Como perceber isso? Basta ir a um show e ver o desfile de moda que há: tênis da Nike, camisas da moda straight edge, cabelos descolados, cada um mais estiloso que o outro. A violência, característica imprescindível que marcou o hardcore de forma histórica, não foi perdida. Ela foi apenas transformada, como dizia Lavoisier. Esta se encontra nas rodas que se formam nos shows, nos pés dos machos fortes que os usam no ar sem preocupação em acertar um pobre mais fraco em seu caminho. Afinal, isso é hardcore. Há também violência nas mãos do truculento underground que as lança no ar acertando qualquer um. Antes, essa violência era usada contra instituições como a polícia, o estado e tantas outras que só diminuem a qualidade humana.

Se você leu isto e não gostou, te faço o convite para a mudança. Ao contrário do que mencionei no início, o hardcore está vivo, mas apenas no coração de uns poucos que sabem que os monstros ainda existem, como está escrito no ingresso do Verdurada 2010. E que não há nenhum caça-fantasmas pra ligar, pois estes não moram em um QG em Nova Iorque, mas em nossos corações.