Chegamos a dezembro, último mês do ano, marcado pelas realizações festivas dos doze meses que vivemos: o natal, tempo de renovação, de reunir amigos/as e familiares, de presentear quem se ama.

Alguém lembra de ouvir esse discurso? Soa conhecido ou não? Creio que seja a primeira opção. Tal discurso natalino é a mais pura hipocrisia. Hipocrisia capitalista disfarçada de “sentimentos bondosos” que brotam repentinamente em dezembro e afloram o “espírito” consumista e caridoso, tão desejado e incentivado no sistema em que vivemos.

O consumo serve como uma venda diante da gigante desigualdade social que nos rodeia, junto com o egoísmo da nossa sociedade. Como é possível apenas pensar na família e amigos/as com tantos/as miseráveis ao nosso redor, com tanta desigualdade social? É possível para quem vive imerso/a no sistema capitalista e não vê problemas na geração de lucros por meio da exploração do ser humano e recursos naturais; para quem não percebe na concentração de renda e dos meios de produção, a continuidade da desigualdade.

No entanto, nesse período de festas natalinas, juntamente com o consumismo acelerado, aparece um sentimento de caridade para com os mais pobres, e diversas campanhas de natal, quase como um alívio na consciência, principalmente, daqueles/as mais religiosos.

Diante dessa reflexão, é impossível referir-me a essa data e à caridade sem recordar da fala do escritor irlandês, Oscar Wilde, da qual compartilho, escrita no livro, A alma do homem sob o socialismo. Wilde aborda a caridade como uma maneira de manter o pobre na condição que está, agravado pela condição humilhante de receber migalhas, o que poderíamos considerar as doações caridosas ocorridas de maneira intensa durante o natal. O mesmo autor questiona: por que contentar-se com as migalhas que caem da mesa do rico, se deveriam estar sentados a ela?

Assim, é preciso uma tomada de consciência sobre essas teias do capitalismo em todas as épocas do ano e buscar maneiras de combater a injustiça social, primeiramente compreendendo o sistema em que estamos inseridos/as e depois criando estratégias coletivas para transformá-lo de maneira radical.