Num mundo onde interesses econômicos determinam o sucesso ou o fracasso do relacionamento entre países, esperar que, em plena internacional do capitalismo, com nações anunciando oficialmente a recessão, líderes governamentais empenhem gastos para reduzir as emissões de CO2, correndo o risco de diminuir ainda mais a produção industrial, é pura inocência.

Se as negociações a respeito do cumprimento do Protocolo de Kyoto já geravam embates ferrenhos entre países desenvolvidos e em desenvolvimento, o lapso na economia global só tende a piorar esta situação. Isso porque a maior preocupação do momento é centrada em reverter a crise, devolvendo confiança aos bancos e investimentos às empresas, um caminho contrário à já tímida medida de redução em 5% das emissões.

Então, buscar formas de frear a economia sem desrespeitar obrigações ambientais constitui o principal desafio aos países. Nesse ponto um consenso justo e plausível entre nações desenvolvidas e em desenvolvimento seria fundamental, visto que a primeira, cujo parque industrial é forte e confiável ao mercado, auxiliaria a segunda com criação e manutenção de tecnologias sustentáveis, garantindo a continuidade do desenvolvimento industrial da mesma, que ainda está firmando sua confiabilidade aos demais, e evitando rombo ainda maior nos cofres de exportação.

Assim como o mundo está ligado por intrínsecas teias econômicas em que baseiam-se os relacionamentos entre Estados fortes, como acontece com Estados Unidos, China ou Brasil, são também profundas e frágeis as teias naturais que garantem a estabilidade climática à Terra. Quando a primeira impulsiona um desequilíbrio à segunda é mais que hora de refazer conceitos e reformular prioridades a respeito do que o homem pretensiosamente julga mais importante.

Enfim, todas as discussões levam-nos apenas à conclusão de que este precário sistema humano de governo, que é voltado à proteção de interesses dos poderosos, está fadado a eternas crises, empurrando-nos a um caminho que talvez não tenha volta. Não que seja o fim da humanidade, pelo contrário. Esta curiosa espécie já provou ser capaz de adaptar-se às mudanças, quando assim forçados social, econômica ou biologicamente.

O fim a que refiro-me é muito mais ideológico. Quando os homens colocarem de lado seus instintos primitivos de competição, disputa e dominação quem sabe não desenvolvam maior aptidão a usufruir da sua racionalidade, fato que os difere das demais espécies, como mediador, organizador, mas nunca superior a elas. Falta ao homem descer do degrau criado por ele mesmo, que o coloca num patamar quase divino.

Finalmente quando isso acontecer, se acontecer, ficará claro a todos, mesmo àqueles que estão no poder, que uma crise capitalista, ameaçando medidas ambientais, é um sinal iminente de que este sistema deve ser destruído, quando não pelo bem do ser humano, como indivíduo livre, mas para o bem do próprio planeta.

Enquanto isso não acontece, estaremos presos ao dominador braço capitalista, que reprime nossas liberdades individuais, apoiando a entrega do ser ao Estado, e sustentando a sociedade injusta em que vivemos. Pior, enquanto isto, a saúde da Terra ficará legada eternamente ao segundo plano, para assegurar que a indústria inescrupulosa continue emitindo poluentes em larga escala e sacrificando a vitalidade do mundo em prol da vitalidade dos próprios bolsos.

Esperar que líderes governamentais empenhem gastos para reduzir as emissões de CO2 é pura inocência.