Começa geralmente com uma propaganda na televisão, estampada numa revista ou exposta num outdoor. A efervescência das grifes poderosas, da moda dominante, propaga-se pelas cidades e supera a limitação das lojas para ganhar as ruas, mostrar-se, conquistar.

Quando menos se espera, já se está usando o último ditame do que é eleito como fashion, já se está comprando, cedendo ao desejo, consumindo um artigo de luxo que entrará para a lista de bens supérfluos adquiridos apenas para se mostrar.

Essa é uma qualidade própria do capitalismo. Compra-se não por que é necessário, mas porque é moda, é luxo, é poder. Comprar é poder. Tudo é reduzido a um valor mercatorial, e não apenas as roupas das grandes grifes, mas vários tipos de bens requintados produzidos especialmente para ostentação. Nessa sociedade, o consumo é símbolo de desenvolvimento. Mais desenvolvido é o país cujo povo pode consumir mais. Mais rica é a empresa cujos produtos são mais consumidos. Mais prestigiado é aquele que mais ostenta.

O capitalismo, berço destas realidades, impulsiona a produção cada vez maior de mercadorias – sejam elas supérfluas ou não – e como requer que estas ganhem compradores, expande suas fronteiras, deixa de ser nacional para ser global, para vencer os concorrentes, para ganhar novos mercados/ consumidores. No imperialismo, quando o capitalismo tinha apenas uma forma primitiva do que hoje conhecemos, a disputa por colônias asiático-africanas movia o interesse europeu, o que gerou depois alguns dos eventos mais lamentáveis da humanidade, a exemplo das inúmeras guerras civis nos países africanos. Atualmente o processo se dá de forma mais sutil: são as multinacionais que se instalam em todo canto, exploram a mão de obra muitas vezes barata, exportam com benefícios aos seus países de origem e normalmente ao resto do mundo.

Há ainda o pior, porque em prol do desenvolvimento industrial, as empresas e governos expandem seus limites até áreas florestais, jogam suas quantidades colossais de lixo tóxico em rios ou aterros mal planejados, emitem poluentes em larga escala na atmosfera – o aquecimento global nem precisa ser citado – e tantas outras cometidas contra o planeta.

E ouvem-se por aí “nobres” e “cultas” vozes que condenam seus países e estas indústrias pelas agressões ao meio ambiente, mas continuam comprando e consumindo os produtos destas mesas indústrias, continuam indo aos shoppings e adquirindo roupas das grifes que se sustentam sobre os cadáveres de vários animais, enfim, continuam consumindo aquilo que o capitalismo dita ser necessário para se viver bem.

Para eximir suas culpas, defendem o discurso para lá de hipócrita sobre desenvolvimento sustentável, crendo na utopia de que o capitalismo irá propositalmente frear suas indústrias, diminuir o incentivo ao consumo e se autodestruir. Vivem esperando que a crise acabe e que eles novamente tenham dinheiro para comprar e repetir o ciclo mortal do consumismo. Mas que fique claro: não se ignoram os benefícios trazidos pelo desenvolvimento industrial, que proporcionaram mais conforto e segurança ao homem, mas tais benefícios existiriam de uma forma ou de outra sem a indústria, pois o homem não precisa das tendências capitalistas para querer o melhor – e o melhor é muito mais uma questão exterior, cultural que interior e comum à humanidade.

O inadmissível e vergonhoso é que o capitalismo dite a escolha deste melhor, desrespeitando não apenas a liberdade de escolha humana, mas a vida de outros animais e do próprio planeta. Essas constantes são as maiores provas de que o consumismo exacerbado, motor deste sistema, é a principal manifestação velada dos erros humanos para com o mundo, e que por isso, deve ser eliminado e combatido até o fim.